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Lideranças no contexto ESG: está pronto para esta mudança?

O capitalismo passa outra vez por uma grande transição histórica. Pressionado desde a crise de 2008, que trouxe à tona os estragos de um mercado excessivamente desregulamentado e com visão de resultados de curto prazo, o sistema e seus principais atores – governos, empresas, reguladores e investidores –, têm buscado construir narrativas que contemplem aspectos sociais, ambientais e humanos. Não cabe mais o foco exclusivo no retorno ao acionista com as melhores margens possíveis, custe o que custar.


A possibilidade de dar essa virada e fazer uma versão melhor ganhou contornos reais com a ênfase ao fundamento do capitalismo de stakeholders, destacado no fórum Econômico Mundial do ano passado. Em 2021, esse tema ganhou ainda mais tração, na esteira de novas agendas trazidas a Davos, como o debate da inclusão racial nas empresas, a universalização da saúde pós-pandemia e retorno dos Estados Unidos ao Acordo Climático de Paris.

Esse movimento representa, portanto, um avanço ao pensamento concebido por Milton Friedman. Para o prêmio Nobel de Economia, a obtenção dos ganhos financeiros era o foco e o principal fator para prover o crescimento econômico global.


Como obter lucro “para sempre”


Já no capitalismo de stakeholders, o jogo ganha amplitude e complexidade. Obter lucros continua, claro, sendo legítimo e fundamental. No entanto, “como” os resultados serão alcançados ganha relevância quando se trata de perenizar a companhia. É nesse ambiente que as práticas ESG (sigla que, em inglês, significa, meio ambiente, social e governança) passam a ocupar o topo da agenda corporativa. Mas, para sair da camada do discurso e ser incorporada à lógica cotidiana dos negócios, será preciso engajamento dos líderes empresariais do país.



Patrimônio líquido de fundos da categoria Sustentabilidade / Governança no Brasil (em R$)


Segundo especialistas ouvidos pelo Experience Club, só assim o ESG será mais do que perfumaria. Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), considera fundamental que as lideranças empresariais compreendam o verdadeiro objetivo do ESG: demonstrar o real volume de ativos e passivos de uma organização, incluindo sua dimensão humana (pessoas) e socioambiental. “Tanto o PIB quanto o balanço financeiro das empresas não expressam hoje as demandas e as mudanças culturais e geracionais que estamos vivendo. Afinal, eles não computam as externalidades. Ali só aparece o que está no curto prazo e impacta de três em três meses. A natureza só surge quando vira um problema, como a floresta queimando ou um rio poluído”, aponta.

Já o PIB, segundo ela, falha por não incluir métricas para além da contabilização de bens e serviços. “Falta mensurar o índice de desenvolvimento humano, de prosperidade de uma nação e não apenas pensar em crescer, crescer e crescer sempre. É preciso complementariedade nessa medida. Sozinha, essa lógica não se sustenta.”


Em referência à carta aberta do CEO do fundo global BlackRock em defesa da sustentabilidade nos negócios, caberá ainda ressaltar que o líder nesses tempos de transformações aceleradas, compreender que para zelar pela reputação da companhia – um aspecto fundamental para a continuidade dos negócios – será preciso ter cada vez mais habilidades socioemocionais e jogo de cintura. Exemplos disso são a relação com a comunidade, as minorias e a natureza. Marina Grossi Presidente do CEBD



Propósito ou Marketing?


Outro desafio que põe em xeque a capacidade das lideranças empresariais é a defesa pública de causas e bandeiras. Isso vai exigir, por parte das organizações e de quem as comanda, clareza na elaboração de propósitos, valores e objetivos. Afinal, coerência e engajamento são demandas diárias, cobradas com veemência, sobretudo nas redes sociais, pondera Francine Lemos, Diretora do Sistema B, entidade certificadora de empresas que buscam atuar com base no novo capitalismo e visam gerar impacto social.


“Tenho notado um forte movimento de marcas ativistas nos últimos anos, com posicionamentos e causas virando o novo Marketing. Mas, no fundo, pessoas se inspiram e confiam mesmo em outras pessoas. E, nesse sentido, se espera mais dos líderes, dos CEOS. Às vezes, acho que faltam mais Luizas (Trajano, referindo-se à fundadora do Magazine Luiza), que exerce muito bem esse papel, se posicionando com clareza.” Francine Lemos Diretora do Sistema B

Mudar não é uma opção


Profissionais experientes, acreditam que o ESG veio para ficar. Mas por que este movimento não é mais uma iniciativa de sustentabilidade que parou no meio do caminho, como já vimos acontecer em outras ocasiões? O pragmatismo pode ser a resposta. “Não se trata de uma onda ou modismo. Não deve ser adotado porque todo mundo está falando nisso. É mais simples: falta de opção. A humanidade vem tratando o planeta como lata do lixo há muito tempo. E isso não pode mais acontecer”, lembra Flávio Brando, da consultoria Ponteverde.



ESG é uma autêntica revolução. É irreversível, pois trata de como trabalhamos, nos relacionamos, onde moramos e como consumimos e fazemos negócios”, completa o especialista. Flávio Brando Consultoria Pontoverde

A carteira 2021 do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) elaborada pela B3 com validade até 30 de3 dezembro, reúne 39 empresas com valor de mercado estimado em R$ 1,8 trilhão. A velocidade de alta no investimento em ações lastreadas no conceito de sustentabilidade mostra que este deverá ser um ano decisivo para o padrão ESG.

No horizonte está uma nova proposta de crescimento baseada em energia renováveis pelo governo americano, bem como a aceleração de tecnologias que prometem pôr fim ao modelo de dependência do carvão na Índia e até mesmo na China. O fim da era do petróleo começa a deixar o campo da suposição.

Nesse contexto, a proteção dos biomas brasileiros estará mais do que nunca no centro desse debate global. Para os maiores grupos empresariais presentes no país, fazer parte desse protagonismo deixou de ser uma opção.



Fonte: Experience Club Por: Luciano Feltrin

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