Por: Pedro Henrique Kool Diretor Executivo da Globaltek
O potencial do hidrogênio para desempenhar um papel significativo na busca global pela descarbonização está atraindo atenção de um número crescente de indústrias e governos. Movidos por preocupações com as mudanças climáticas, investidores e formuladores de políticas públicas estão pressionando por reduções agressivas da pegada de carbono.
Estima-se que até 2025, países que juntos somam 80% do PIB global tenham lançado suas diretrizes para a transição energética, tendo o hidrogênio verde como estratégia central a longo prazo. No entanto, sem o hidrogênio azul no curto e médio prazo, como etapa intermediária da transição energética, as aspirações pelo hidrogênio poderão fracassar devido a expectativas baseadas na realidade política, em vez de comercial e técnica, e comprometer o atingimento das metas de descarbonização determinadas. Em Julho de 2021 o Ministério de Minas e Energia (MME) do Brasil divulgou as diretrizes do PNH2 – Programa Nacional de Hidrogênio.
A maior parte do suprimento mundial de hidrogênio é obtida a partir de combustíveis fósseis, o hidrogênio cinza, e é usado em diversos segmentos industriais tradicionais. Por isso a transição para fontes de hidrogênio com menos pegada de carbono urge nestes segmentos, enquanto a área de mobilidade com hidrogênio já demonstra expansão e com grandes investimentos em andamento, trazendo discussões frente aos veículos elétricos a baterias (BEVs). E o mercado chamado Power-to-X, que no ponto de produção transforma eletricidade renovável em hidrogênio ou outro combustível a gás ou líquido, que é então entregue ao consumidor final, vem sendo visto como o desdobramento tecnológico e disruptivo da transição energética no longo prazo.
Por isso a descarbonização da economia global e o hidrogênio como potencial agente para a transição energética do século XXI, precisam ser entendidos como manobras paralelas, apesar de possuírem intersecções intrínsecas e relevantes, dentro da estratégia a longo prazo. Afinal, esta não é uma demanda de mercado, mas sim uma demanda pelo bem da descarbonização da atmosfera gasosa do planeta e das futuras gerações das espécies que nele habitam.
HIDROGÊNIO AZUL E SUA IMPORTÂNCIA A CURTO E MÉDIO PRAZO
Com metas arrojadas para descarbonizar a matriz de energia, as maiores economias do mundo enfrentam grandes desafios para alcançarem sucesso na transição energética. O aumento das participações de eólica e solar tem acontecido há décadas, porém estima-se que apenas em um horizonte de 10 a 15 anos será possível aplicar energia elétrica de matriz renovável para a produção de hidrogênio via eletrólise da água (o hidrogênio verde, altamente dependente de energia elétrica renovável) e difundir as aplicações dessa fonte com menor pegada de carbono em toda cadeia da matriz energética, o Power-to-X. Uma vez que a instalação de assets de renováveis para produção de hidrogênio verde agora, inviabilizaria a descarbonização da matriz elétrica desses países e coloca em cheque o atingimento das metas de descarbonização até 2050.
Por isso adotar o hidrogênio azul (oriundo de matriz fóssil, que pode ser produzido através da reforma de metano em hidrogênio + CO2, por exemplo, armazenando ou sequestrando o CO2 gerado) como etapa intermediaria se torna imprescindível para viabilizar uma economia de hidrogênio no futuro, e atingir as metas de descarbonização. A tecnologia já está disponível, o armazenamento e sequestro de CO2 vem se tornando mais viáveis, e a expansão gradual das aplicações de hidrogênio poderão criar o alicerce de infraestrutura necessária para a difusão do hidrogênio verde a longo prazo.
HIDROGÊNIO VERDE, E O POTENCIAL DO BRASIL
Os preços dos equipamentos de eletrólise estão caindo e, combinados com os custos cada vez menores das fontes primárias renováveis, tornam a rota verde para o hidrogênio mais atraente do que foi no passado. A meta da NEL, que é o maior fabricante de geradores de hidrogênio via eletrólise da água, é equiparar o preço do hidrogênio verde com o hidrogênio cinza já em 2025, através do aumento de escala das suas unidades fabris e maiores eficiências de conversão nas células de eletrólise, tendo como meta atingir a marca de US$ 1,5/kg de hidrogênio.
Com 83% da sua matriz elétrica já sendo renovável, com 64,9% oriundo de hidroelétricas, e os outros 18,1% distribuídos entre em eólica, solar e biomassa, segundo a EPE – Empresa de Pesquisa Energética, o Brasil está guinando uma posição de destaque na economia do hidrogênio sem carbono. Os países da União Europeia, por exemplo, apesar de já divulgarem apetite por 40B€ em hidrogênio verde nos próximos anos, precisam contar com as fontes primarias renováveis para descarbonizar a sua matriz elétrica primeiro, sobrando pouco espaço para produção de hidrogênio verde. Por isso dependem da rota do hidrogênio azul no curto e médio prazo para atingir as metas de descarbonização. Já o Brasil, possui a condição de atuar tanto na rota do hidrogênio azul, quanto na rota do hidrogênio verde desde já, e aproveitar essa janela de oportunidades para construir novas vantagens competitivas em benefício de sua sociedade.
A matriz elétrica Brasileira já sendo majoritariamente descarbonizada, coloca o país a frente neste quesito. Pois investimentos em assets de renováveis, focados na geração de hidrogênio verde, já fazem sentido no Brasil. Esta posição poderá colocar o país em proeminência nas aplicações de hidrogênio verde no Power-to-X. O potencial de atração de investimentos estrangeiros para o mercado de aplicações industriais (indústria de fertilizantes e siderúrgicas por exemplo, que precisam descarbonizar os seus processos e não possuem energia renovável disponível em outros países) no curto prazo, pode se tornar alicerce para um desenvolvimento acelerado de infraestrutura e verticalização da cadeia produtiva de hidrogênio verde no Brasil. Ao ponto que o país também pode iniciar a descarbonização com o hidrogênio azul, se valendo da infraestrutura e mercados já existentes e consolidados. Esta oportunidade pode levar o Brasil ao sucesso na descarbonização e na transição energética até 2050, deixando um legado frutífero para as próximas gerações. Os nossos desafios são outros.
Por: Pedro Henrique Kool Diretor Executivo da Globaltek _ Fonte: EPE, Oxford Institute for Energy Studies
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