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Entrevista com Ana Tomazelli - Fundadora e Diretora-presidente do IPEFEM


1. Qual é a importância de se falar sobre saúde mental no ambiente de trabalho?

Importância máxima. Não existe saúde física sem saúde mental, não existe trabalho sem saúde mental, não existem relacionamentos sem saúde mental - em resumo, não existe vida sem saúde mental.

No entanto, falar sobre saúde mental não é suficiente. Há muitos níveis e sentimentos envolvidos, como vergonha, por exemplo, além do medo de sofrer consequências negativas ao dividir um diagnóstico, por exemplo.

Em um ambiente sem segurança psicológica, falar sobre saúde mental pode agravar circunstâncias, e não melhorá-las.

2. Quais são os sinais que indicam que um colaborador pode estar enfrentando problemas de saúde mental?

Cada pessoa vai manifestar sintomas de uma forma única, mas há situações que podem ser indicativas de problemas, como cansaço permanente, atrasos, dificuldade de concentração, perda de raciocínio, maior sensibilidade ou irritabilidade na relação com os colegas.

Esses sintomas não denunciam, apenas, que o colaborador pode estar com algum problema, mas, principalmente, que o AMBIENTE pode estar com algum problema e, portanto, se manifestando nas pessoas do time.

Ninguém fica doente sozinho.

3. Que ações empresas podem promover com foco na saúde mental dos colaboradores?

Em primeiro lugar, um bom diagnóstico de segurança psicológica, principalmente aprofundando as questões da liderança.

Depois, uma pesquisa qualitativa de alta qualidade, com grupos desenhados de acordo com a realidade de cada empresa, para mapear as possibilidades de solução. Não adianta juntar meia dúzia de especialistas e profissionais de Gestão de Pessoas em uma sala, se não OUVIRMOS, de verdade, quem vive o dia a dia da Organização.

Com isso, se comprometer NO LONGO PRAZO. Os programas vão à falência porque não respeitam os ciclos, o tempo, as entradas e saídas de pessoas, ou seja, não se comprometem com a causa. Querem resultados imediatos dos sintomas e acabam por acumular ainda mais frustrações.

Muito importante ressaltar a necessidade de inserir profissionais da Assistência Social no time de cuidados integrais. Um profissional é, antes de tudo, um sujeito com relações diversas, desafios e angústias digitais, além de precisar administrar todas as variáveis de cobranças e exigências em seu ambiente de trabalho. Um lugar de escuta e orientação qualificada pode ser a diferença entre uma apólice de plano de saúde controlada ou um reajuste custando o dobro da inflação médica no período.

4. Como lidar com a resistência de alguns colaboradores em buscar ajuda para problemas de saúde mental? De que maneira identificar pessoas que possuam essa resistência?

A busca de ajuda é uma decisão pessoal e intransferível, não cabendo a ninguém de fora essa decisão. Um diagnóstico é exclusividade de profissionais qualificados da Psiquiatria e da Psicologia, a depender das dificuldades que a própria pessoa encontra em sua vivência cotidiana.

No âmbito do trabalho, o que pode ser administrado e conversado é a performance do colaborador, a partir daquilo que ele foi contratado para entregar, dentro de um espectro de tolerância estabelecido entre as partes. Diálogos honestos e acordos claros devem ser a base para a manutenção ou para o rompimento de qualquer relação, inclusive a comercial.


5. Como as empresas podem ajudar a quebrar o estigma em torno dos problemas de saúde mental e incentivar os colaboradores a procurarem ajuda quando necessário?

A primeira coisa que a empresa deve fazer é assumir que é, ela mesma, a produtora de angústia e transtornos em saúde mental dos seus profissionais. Fazer uma autocrítica, revisar processos, rever ferramentas de comunicação imediata, por exemplo, tudo isso deve acontecer ANTES de atribuir responsabilidades individuais.

Quebrar o estigma tem a ver com admitir-se parte do problema.

Falar sobre o assunto, montar uma equipe dedicada e alocar recursos para o tema são, concretamente, as ações necessárias para avançar e propor ações que realmente terão efeito.

O incentivo a buscar ajuda deveria ser a última necessidade. Nós, gestores, deveríamos ser a ajuda.

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